Saúde Pública e Mudanças climáticas, é o titulo deste texto que tem como objectivo, fornecer alguma informação e dados sobre como se relacionam
Mudanças climáticas: Enquadramento
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) (2008), diz que a ocorrência do processo de mudanças climáticas, principalmente aquelas provocadas pelo aquecimento global e acção humana, foi pela primeira vez alertada na década de 1950.
No entanto, nessa época foram desenvolvidos modelos que permitiram explicar a variação de clima ocorrida ao longo do século.
Assim, foi feita a avaliação das variações de elementos naturais, tais como vulcanismo, alterações da órbita da Terra, entre outros e de acção humana, nomeadamente emissão de gases do efeito estufa, desmatamento e queimadas.
Portanto, as mudanças climáticas refletem o impacto de processos socioeconómicos e culturais, como o crescimento populacional, urbanização, industrialização e aumento do consumo e procura de recursos naturais (Mcmichael, 1999; Confalonieri et al, 2002 citados por OPAS, 2008).
Mudanças climáticas e a saúde
O primeiro relatório global sobre as mudanças climáticas e a saúde pública foi publicado pela Organização Mundial da Saúde em 1990 (OPAS, 2008).
Assim, segundo a fonte, os problemas de saúde humana associados às mudanças climáticas não têm sua origem necessariamente nas alterações climáticas.
Por isso, as relações entre as mudanças climáticas e a saúde são frequentemente complexas e indirectas (USAID, 2017)
Sendo assim, as mudanças climáticas são um multiplicador de stress para a saúde, colocando sob pressão sistemas vulneráveis, populações e regiões, e piorando as situações já existentes na área da saúde (Idem)
Principais Impactos
No sector de saúde, as manifestações de mudanças climáticas incluem a ocorrência de distúrbios psicológicos e sociais como consequência dos eventos climáticos extremos tais como a seca, as cheias, os ciclones e outros (Sidat e Vergara, 2012).
Incluem também as alterações nos padrões de ocorrência de doenças transmitidas por vectores como malária e dengue e, por água contaminada como cólera e outras doenças.
Portanto, incluem também doenças respiratórias sobretudo que resultam da poluição ambiental como asma e outras crónicas não transmissíveis.
Assim, as pesquisas em saúde geralmente alertam para factores relacionados às alterações climáticas.
No entanto, as mudanças climáticas produzem impactos sobre a saúde pública de forma directa, como no caso das ondas de calor, ou mortes causadas por outros eventos extremos como furacões e inundações (OPAS, 2008).
Mas também de forma indirecta, através de aumento da incidência de doenças infecciosas e doenças não-transmissíveis, que incluem a desnutrição e doenças mentais.
Contudo, o organismo exorta para o facto de nem todos os impactos sobre a saúde serem negativos. Por exemplo, a mortalidade que se observa nos invernos poderia ser reduzida com o aumento das temperaturas.
Por outro lado, o aumento de áreas e períodos secos pode diminuir a propagação de alguns vectores.
Assim, em geral, os impactos negativos serão mais intensos que os positivos.
Outros impactos
O aquecimento global tem consequências directas sobre a mortalidade, por meio da produção de desastres como enchentes, ondas de calor, secas e queimadas (OPAS, 2008).
Isto é, as alterações sazonais de clima, produzem um efeito na dinâmica das doenças vectoriais como, por exemplo, a maior incidência da dengue no verão e da malária durante o período de estiagem.
Assim, os eventos extremos introduzem considerável flutuação que podem afectar a dinâmica das doenças de veiculação hídrica como as diarreias (OPAS, 2008).
Exemplos de Moçambique
Em Moçambique, as doenças diarreicas são um grupo de resultados de saúde sensíveis ao clima que gera uma preocupação, com mais de 7 milhões de casos registados entre 1997– 2014 (USAID, 2017).
Em 2015 segundo a mesma fonte, esta doença representava a quinta principal causa de mortalidade e, a quarta principal causa de mortalidade e incapacidade.
Quanto a malária, foram analisados diferentes períodos de tempo relativos à incidência da malária em todo o país incluindo os períodos de 2010–2012 e 2013–2014.
O número de casos de malária manteve-se estável entre 2010 a 2012 e aumentou rapidamente entre 2013 e 2014.
Contudo, como resultado das alterações do clima esperadas durante as próximas décadas, prevê-se uma modificação do perfil da doença.
Portanto, a relação entre a transmissão da malária e o clima é complexa pois o clima pode ter um impacto na transmissão da malária ao afectar o ciclo de vida do parasita, do mosquito, do portador humano ou uma combinação dos três.
Outras doenças
As doenças respiratórias são influenciadas por queimadas e os efeitos de inversões térmicas que concentram a poluição e tem impacto directo na qualidade do ar, principalmente nas áreas urbanas.
Além disso, situações de desnutrição podem ser provocadas por perdas na agricultura, principalmente a de subsistência, devido a ventos, secas cheias e inundações.
A Figura 1, mostra os possíveis caminhos dos efeitos das mudanças climáticas sobre condições de saúde.
A figura 2, resume os efeitos prováveis das mudanças climáticas na saúde e possíveis respostas
Factores de risco
A idade, o perfil de saúde, a capacidade de resiliência do organismo humano e condições sociais contribuem para as respostas humanas relacionadas às variáveis climáticas (Martins et al, 2004).
Portanto, existem estudos que indicam que certos factores que aumentam a vulnerabilidade dos problemas climáticos são uma combinação de crescimento populacional, pobreza e degradação ambiental (IPCC, 2001a; Mcmichael, 2003).
Assim, as condições da atmosfera podem influenciar o transporte de microrganismos, assim como de poluentes oriundos de fontes fixas e móveis (Moreno, 2006).
As alterações de temperatura, humidade e o regime de chuvas, podem aumentar os efeitos das doenças respiratórias assim como alterar as condições de exposição aos poluentes atmosféricos (OPA, 2008).
Referências bibliográficas
IPCC (2001). The Science of Climate Chang: The Scientific Basis. Contribution of Working Group 1 to the IPCC, The assessment report, Cambridge University.
Marengo, J.A. (2007). Mudanças Climáticas Globais e seus Efeitos sobre a Biodiversidade: Caracterização do Clima Atual e Definição das Alterações Climáticas para o território brasileiro ao Longo do Século XXI. Brasília: Ministério do Meio Ambiente.
Martins, M.C. et al. (2004). Influence of socioeconomic conditions on air pollution adverse health effects in elderly people: an analysis of six regions in Sao Paulo, Brazil. Journal of Epidemiology and Community Health, v. 58, n.1.
Mcmichael, A.J. (2003). Climate change and human health. Risks and responses. Genebra: WHO.
Organização Pan-Americana da Saúde (2008). Mudanças climáticas e ambientais e seus efeitos na saúde: cenários e incertezas para o Brasil. Série Saúde Ambiental 1, 1ª edição, Brasilia
Sidat, M.M., Vergara, A. (2012). Mudanças climáticas e saúde pública: Uma reflexão com enfoque para Moçambique. Rev. Cient. UEM, Ser: Ciências Biomédicas e Saúde Pública, Vol. 1, Maputo.
USAID (2017). Mudanças climáticas e vulnerabilidade da saúde impactos na doença diarreica e na malária. 2017, disponível em https://www.climatelinks.org/sites/default/files/asset/document/180327_USAID-ATLAS_Mozambique%20Climate%20and%20Health%20Briefing%20Note_final_Portuguese_rev.pdf